sábado, 23 de setembro de 2017

Astrónomos encontram surpresa escondida na “noite” de Vénus


Vénus não é de todo o lugar mais convidativo para “se visitar” no Sistema Solar. O seu calor abrasador e a sua atmosfera corrosiva, fazem deste planeta um inferno tóxico. Se lá for, certifique-se que volta antes de anoitecer.

Vénus é o segundo planeta do Sistema Solar em ordem de distância a partir do Sol, orbitando-o a cada 224,7 dias. Sabe-se muitas coisas deste planeta, contudo os astrónomos acabaram de encontrar uma surpresa escondida no seu misterioso lado noturno.

Feita uma nova e mais pormenorizada análise ao misterioso lado noturno de Vénus – a metade escura impercetível que se afasta do Sol – revelou, com surpresa, que a atmosfera do planeta e as intensas ventanias são ainda mais caóticas quando o planeta está escondido nas sombras.

Esta é a primeira vez que conseguimos avaliar como a atmosfera circula no lado noturno de Vénus numa escala global. Embora a circulação atmosférica no dia do planeta tenha sido amplamente explorada, ainda havia muito a descobrir sobre o seu lado noturno.

Referiu o astrofísico Javier Peralta, da Japan Aerospace Exploration Agency (JAXA).


Noites que duram 243 dias terrestres

Este misterioso momento da noite foi ainda mais intrigante devido à sua considerável extensão. Isto porque Vénus gira apenas uma vez a cada 243 dias terrestres – um período de rotação mais lento que qualquer planeta no nosso Sistema Solar – e há muitas informações que desconhecemos sobre o que acontece com o clima quando o Sol se põe, uma espécie de noite que dura um longo tempo.

Para descobrir o mistério, a equipa de Peralta olhou para a escuridão venusiana recorrendo a um Espectrómetro de Imagem Térmica Visível e Infravermelho (VIRTIS), instalado na nave espacial Vénus Express, da ESA, que orbitou o planeta entre 2006 e 2014.

A atmosfera de Vénus é dominada por fortes ventos que se arrastam ao seu redor, até 60 vezes mais rápidos do que a rotação do próprio planeta. Esse fenómeno é chamado de “super rotação”, que os cientistas observaram ao monitorizar o movimento de nuvens brilhantes flutuando acima do planeta.

Passamos décadas a estudar esses ventos super rotativos ao acompanhar como as nuvens superiores se movem durante o dia – estas são claramente visíveis nas imagens adquiridas via luz ultravioleta. No entanto, os nossos modelos de Vénus permanecem incapazes de reproduzir esta super rotação, o que indica claramente que talvez faltem algumas peças deste quebra-cabeça.

Referiu Peralta.


VIRTIS trouxe imagens nunca vistas de Vénus

As emissões térmicas haviam sugerido, anteriormente, o movimento das nuvens mais altas na atmosfera de Vénus. Quanto ao que ocorria debaixo do dossel da nuvem, os cientistas não tinham conhecimento. Foi então, graças à Vénus Express, que agora há uma imagem mais clara.

O VIRTIS permitiu-nos observar essas nuvens com clareza pela primeira vez, permitindo-nos explorar o que as equipas anteriores não poderiam. Com isso, descobrimos resultados inesperados e surpreendentes.

Disse o astrónomo responsável por estas novas análises ao planeta.

Os modelos existentes da atmosfera previram que a super rotação ocorreu, em grande parte, da mesma forma nos lados do dia e da noite do planeta, mas a nova perspetiva infravermelha mostra que os ventos venusianos giratórios são realmente mais irregulares e caóticos quando o planeta se esconde do Sol.

A pesquisa da equipa mostra que o lado da noite produz nuvens volumosas, onduladas e irregulares em padrões de filamentos que não são observados no lado soalheiro. A equipa acredita que um fenómeno chamado de ondas estacionárias seja o responsável pelo efeito.

As ondas estacionárias são provavelmente o que chamaríamos de ondas de gravidade, ou seja, variações crescentes geradas em regiões mais baixas na atmosfera de Vénus, que parecem não se mover junto à rotação do planeta.

Disse um dos investigadores, Agustin Sánchez-Lavega, da Universidade do País Basco, na Espanha.

Essas ondas estão concentradas em áreas íngremes e montanhosas do planeta, o que sugere que a sua topografia está a afetar o que se desenrola bem acima nas nuvens.


Um inferno tóxico

Na verdade, não é a primeira vez que essas ondas gravitacionais foram observadas em Vénus, mas os novos dados sugerem que o fenómeno não se restringe exclusivamente às regiões elevadas do planeta, como as suas montanhas. No estudo, a VIRTIS observou áreas no hemisfério sul de Vénus, que geralmente é baixo em elevação. A equipa diz que as ondas de gravidade ainda influenciam os movimentos atmosféricos. Estranhamente, contudo, não houve evidência dessas movimentações nos níveis mais baixos da nuvem, a até 50 quilómetros acima da superfície.

Quanto ao motivo, a equipa continua sem certezas. Parece que, enquanto conquistamos melhores olhares das sombras, Vénus definitivamente ainda não desistiu de manter guardados todos os seus segredos.

Nós esperávamos encontrar essas ondas nos níveis mais baixos porque as vemos nas regiões superiores e pensamos que elas surgiram a partir da nuvem da superfície. É um resultado inesperado, com certeza, e todos precisamos rever os nossos modelos de Vénus para explorar o seu significado.

Concluiu um dos integrantes da equipa, Ricardo Hueso, da Universidade do País Basco, na Espanha.

As descobertas foram relatadas na Nature Astronomy.

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